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Como identificar os sinais de uma crise de saúde mental em alguém que ama

Embora a pandemia do COVID tenha certamente criado mais consciencialização sobre os desafios da saúde mental em geral, ainda pode ser realmente difícil reconhecer uma crise de saúde mental nas pessoas mais próximas a nós. A crise pode-se desenvolver gradualmente, o que dificulta a observação das mudanças.


Muitas pessoas também sentem vergonha dos seus problemas relacionados com a saúde mental e vão tentar escondê-los, mesmo dos mais próximos. Pode ser especialmente fácil esconder os problemas quando o nosso contacto é apenas por SMS ou telefone.


Abaixo estão alguns sinais de que alguém pode estar a passar por uma crise de saúde mental. Lembre-se de que nenhum destes sinais significa necessariamente que a pessoa está a passar por uma crise; em vez disso, servem como pistas para prestar atenção e obter mais informações.


AFASTAMENTO

Um dos sinais comuns de problemas de saúde mental é o afastamento perceptível das actividades normais. Isso pode ser difícil de avaliar, já que a maioria das actividades está agora condicionada.


Os tipos de afastamento podem incluir:

• Permanecer no quarto muito mais tempo que o habitual

• Evitar a todo custo o contacto com amigos

• Não responder as mensagens

• Evitar as refeições


Estes tipos de abstinência podem reflectir a baixa energia, motivação e envolvimento típicos da depressão, ou o medo e o evitamento comuns com elevados níveis de ansiedade. Eles também podem reflectir outros conflitos internos que fazem a pessoa querer esconder-se.


ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS SUBSTANCIAS

Alterações no consumo de álcool ou outras substâncias por uma pessoa podem ser um sinal de um problema de saúde mental subjacente. O aumento do uso de álcool é generalizado durante esta pandemia, o que pode tornar difícil saber se há realmente um problema. Procure por mudanças como:

• Uso mais frequente, como começar a beber na maioria das noites da semana

• Maior volume ao usar, como beber a ponto de se embriagar mesmo

• Beber mais freneticamente e sem moderação, sem pausas entre um copo e outro.

• Usar substâncias que antes não consumia


Álcool e outras substâncias são frequentemente usados ​​para aliviar a dor da depressão ou trauma, ou para diminuir os sentimentos de ansiedade, erradamente. Padrões problemáticos de uso também podem reflectir uma tendência ao vício. Seja especialmente atento se houver um histórico de problemas de consumo de substâncias na sua família.


PRINCIPAL STRESS RECENTE

Este é um momento stressante para todos, mas mais ainda para alguns do que para outros. Embora não sejam um sinal de crise de saúde mental, eventos stressantes da vida são um dos melhores preditores de problemas na saúde mental, incluindo quadros de depressão, stress pós-traumático, problemas com álcool ou ansiedade excessiva.


As tensões recentes prováveis ​​podem incluir:

• Perda do emprego

• Ter tido COVID

• Preocupação com membros da família que tiveram COVID

• Trabalhar em ocupações de alto risco, como transporte público

• Cuidar de pessoas com COVID

• Perder os seus negócios

• Dificuldades financeiras


Não é incomum que uma pessoa experimente uma reacção tardia a um evento stressante da vida. Por exemplo, algumas pessoas que sobrevivem a um trauma grave, como uma doença com risco de vida, podem experimentar uma perturbação de stress pós-traumático “com expressão tardia”, o que significa que a condição não está totalmente presente até pelo menos 6 meses após o trauma.


As tensões que continuam por muito tempo, como os problemas crónicos da saúde ou o desemprego de longa duração, geralmente têm um efeito cumulativo. Por esse motivo, o seu ente querido pode parecer surpreendentemente bem mas o seu corpo e mente podem enfrentar problemas à medida que o stress aumenta e seu sistema nervoso continuamente em alerta máximo pode justificar fazer um exame médico para avaliar a sua condição de saúde.


Também pode ser difícil reconhecer as reacções de alguém a um stressor importante, como uma pandemia, quando esse stressor também o afecta. Por exemplo, se na sua família enfrentam dificuldades financeiras, podem estar menos consciente de como essa tensão afecta os outros. Nesses momentos, talvez seja necessário lembrar-nos deliberadamente de verificar, com os que estão à nossa volta, como estes estão.


A LUTA PARA CUMPRIR AS OBRIGAÇÕES

Pode perceber que a pessoa com quem se preocupa é menos responsável pelas suas responsabilidades em casa, como lavar a louça ou tirar o lixo. Se eles ainda estiverem empregados, podem faltar ao trabalho com mais frequência ou ter dificuldade em cumprir horários. Os alunos podem não entregar trabalhos ou não concluir outras tarefas. Eles podem estar a faltar a video-conferências agendadas ou chegar atrasados. Muitas vezes, uma pessoa pode ter uma explicação para cada lapso que pareça razoável – ela não conseguiu enviar o seu trabalho a tempo porque o site estava em manutenção ou perdeu um compromisso matinal porque esqueceu-se de programar o despertador ou, talvez, usem a explicação geral: existe uma pandemia!

Siga os seus instintos para sentir se há algo mais profundo que explica os problemas que está a enfrentar.


FALTA DE AUTO-CUIDADO

Quando uma pessoa está a passar por grandes dificuldades na vida, o auto-cuidado básico costuma ser uma das primeiras coisas a observar. O banho torna-se pouco frequente, na medida em que o odor corporal torna-se uma evidencia clara. Podem parar de cuidar dos dentes, usam as mesmas roupas e com uma aparência descuidada, que pode ser facilmente explicado pela situação da COVID.

Pode notar uma mudança nas escolhas alimentares da pessoa: embora elas tenham comido principalmente alimentos saudáveis ​​no passado, agora estão sobrevivendo com fast-food ou lanches açucarados. Elas podem parar de se exercitar. Seus padrões de sono também podem ter se deteriorado.

Infelizmente, essas alterações podem piorar a condição da pessoa, pois a má alimentação e a falta de exercício estão relacionadas a um nível pior de bem-estar, o que pode perpetuar um ciclo vicioso de auto-cuidado.


MUDANÇA NAS PERSPECTIVAS

Algumas das mudanças mais subtis que pode notar são a maneira como essa pessoa vê o mundo. Pode ter se tornado mais pessimista ou manipuladora. Em vez de ver o mundo numa perspectiva positiva, pelo contrario, tudo é obscuro. Pode notar diferença no tom das suas interacções e uma mudança na maneira como se vê a si própria, ao mundo e as outras pessoas. É verdade que o mundo mudou drasticamente nos últimos meses, portanto, considere a forma como a pessoa tende a responder durante períodos muito desafiantes.


DESESPERANÇA

Preste particular atenção se alguém expressar falta de esperança de que as coisas melhorem. Embora possa ser difícil ter esperança no momento, a maioria de nós acredita que, em algum momento, a situação vai melhorar. É difícil exagerar a importância da esperança, especialmente nestes períodos, e pode ser completamente desanimador perdê-la.


Exemplos de expressões frequentemente proferidas incluem:

• “Eu simplesmente não vejo as coisas a melhorar.”

• “Estou com vontade de desistir.”

• “Este mundo não tem nada para me oferecer.”

• “Eu não sei por que tento – nada dá resultado.”

• “É inútil – as coisas nunca vão melhorar.”

• E, é claro, “sinto-me tão desesperada”.


Embora nenhuma dessas declarações indique uma crise, vale a pena prestar atenção. A perda de esperança pode diminuir a nossa disposição de procurar ajuda e de investir a nossa energia em actividades e relacionamentos que podem ajudar na recuperação. A desesperança também é uma experiência quase universal para quem tenta suicídio. Enquanto a maioria das pessoas que se sente desesperada não tenta acabar com suas vidas, a desesperança aumenta muito o risco.


COMO PODE AJUDAR

Então, o que pode fazer por um ente querido se souber ou suspeitar que ele esteja em crise?


NÃO TENTE SOZINHO

Primeiro, considere consultar alguém que também conheça bem a pessoa em crise – outro membro da família, por exemplo, ou um amigo próximo. Informe essa pessoa o que observou, quais são suas preocupações e convide-a a partilhar qualquer coisa que possa ter notado se tiver tido contacto com a pessoa. Pode ser difícil saber como responder a uma possível crise, especialmente no meio de uma pandemia, portanto, fazer uma parceria com outra pessoa pode ser uma boa ideia.

Embora seja importante proteger o máximo possível a privacidade da pessoa, em algum momento as preocupações com a segurança têm prioridade. Portanto, mantendo o respeito pela necessidade de privacidade do seu ente querido, partilhe o máximo de informação possível para descrever as suas preocupações.


CONVERSE COM A PESSOA COM QUEM ESTÁ PREOCUPADO

Quer consulte ou não outra pessoa, discuta as suas preocupações com a pessoa com quem está preocupado (supondo que não haja motivo óbvio para não fazê-lo). Escolha um horário que seja mutuamente conveniente (a menos que a pessoa continue adiando) e descreva da forma mais imparcial possível o que você observou. Em seguida, convide a pessoa a responder. O objectivo é que saibam que quer ser útil e trabalhem juntos como uma equipa.


Por exemplo, pode dizer: “Ultimamente, notei que tens bebido todas as noites da semana e geralmente tomas várias bebidas ao mesmo tempo. Parece uma grande mudança em relação a como as coisas costumavam ser e eu estou preocupado contigo. Como tens passado?” É mais provável que essa descrição convide uma resposta positiva e colaborativa do que algo como: “Estás a beber demais ultimamente. És alcoolatra?


Estas conversas raramente são fáceis, portanto, esteja preparado para uma série de respostas. Por exemplo, a pessoa pode:

• Expressar perplexidade genuína, sentir que está indo bem

• Ficar irritada, talvez porque as suas preocupações não sejam justificadas – ou porque estão certas

• Validar suas preocupações e contar mais sobre como está

• Agir de forma defensiva, talvez como resultado de sentimentos de vergonha


LIDAR COM SENTIMENTOS DE VERGONHA

A questão da vergonha é muito importante, porque muitas vezes acompanha dificuldades psicológicas e muitas vezes impede uma pessoa de se abrir sobre os seus problemas. A vergonha pode ser especialmente importante quando uma pessoa não está a cumprir as suas obrigações e já se sente culpada por isso. Chamar a atenção e mostrar que notou pode aumentar esse sentimento de culpa e vergonha. Quem está numa situação deste tipo também pode sentir vergonha tiverem comportamentos dos quais não se orgulham, como o uso excessivo de álcool, e podem entender a sua preocupação como julgamento. Expresse da maneira mais clara possível que os ama e os apoia, independentemente do que eles estão a passar.


CUIDE DA SUA PRÓPRIA ANSIEDADE

Esteja ciente da sua própria ansiedade com o bem-estar da pessoa afectada. Quando estamos preocupados com alguém, podemos trazer uma energia inútil para as nossas conversas com eles – especialmente quando já estamos stressados com a pandemia. Por exemplo, podemos ficar zangados se a pessoa parecer evasiva, tornando-a ainda menos propensa a partilhar abertamente as suas preocupações.

Não é realista esperar que fiquemos perfeitamente calmos, é claro, mas simplesmente reconhecer a nossa própria ansiedade com a situação pode ajudar-nos a gerir essa ansiedade com mais eficiência.


PLANEIE A FORMA COMO PODE AJUDAR

Discuta com a pessoa como ela gostaria que a ajudasse em caso de crise ou de agravamento da sua condição. As opções podem incluir:

• Escutá-la sempre que quiser

• Ajudando-a a elaborar um plano auto-direcionado para enfrentar a crise, se não for necessária ajuda profissional

• Fornecer apoio prático, como assumir algumas responsabilidades para aliviar a outra pessoa.

• Pesquise projectos, terapeutas ou outros profissionais que possam ser úteis

• Acompanhar a consultas, se estiver de acordo e se necessário


E SE NÃO QUISER AJUDA?

Só porque alguém está tendo uma crise não significa que está pronto para receber ajuda. Seja paciente e aguarde, continuando a providenciar o apoio possivel.




Texto adaptado por Nuno Rosado, escrito pelo psicólogo clínico Seth J. Gillihan
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